sábado, 12 de março de 2011

Cerejeiras



  Em uma época do ano, os jovens iniciam seu ano letivo, aqueles que terminaram os estudos saem em busca de trabalho, e todo o Japão se prepara para um dos maiores eventos do ano: o florescimento das cerejeiras.
  Essas árvores são tão idolatradas pelos japoneses quanto sua própria bandeira ou hino, e tem razão de ser; apesar de belas, essas árvores florescem apenas uma vez por ano, e sua florada dura apenas cerca de uma semana.
  Apesar de muitos acharem o contrário, as cerejeiras não surgiram no Japão, e sim nas terras dos pandas gigantes e florestas de bambus, a China. Dizem ainda que elas também se originaram na Índia. Não se sabe exatamente quando elas chegaram ao Japão, mas sabe-se que, no século VII, o imperador Saga teria promovido, em Kyoto, o primeiro Hanami: festa de apreciação de flores de cerejeira.
  Tal festival é realizado até hoje, e reúne um público exorbitante. Em cada cidade nipônica, por menor que seja, mesmo que ela nem apareça nos mapas, existe uma associação de cerejeiras, normalmente lideradas pelo prefeito. A Nihon Sakura no Kai é a associação nacional de cerejeiras do Japão, e na época da florada das cerejeiras, ela convoca uma reunião com todos os lideres de associações de cerejeiras, e são escolhidas até rainhas das cerejeiras (comparativamente, pensem em rainhas de bateria no carnaval, só que com mais roupa) e vários países se representam no evento com suas respectivas rainhas. Estados Unidos, Alemanha e Canadá se fazem presentes, e o Brasil se representou no evento por sete anos consecutivos.
Okinawa Sakura
  Por falar no Brasil, as primeiras mudas de cerejeiras foram plantadas por aqui pelo imigrantes japoneses, por volta da década de 70. Nos anos 80, as sementes começaram a ser comercializadas, e a espécie que melhor se estabeleceu nessas terras foi a Okinawa Sakura, como diz o nome, a cerejeira típica de Okinawa, ilha japonesa que tem o clima parecido com o do Brasil. As variedades Himalaia e Yukiwari (essa ultima da região de Shikoku) também se adaptaram ao clima brasileiro. A cereja que compramos no mercado é a brasileira.
  No Japão, o Hanami é comemorado com piqueniques sob as cerejeiras. Um dos maiores eventos do gênero que ocorrem fora do Japão é o Washington National Cherry Blossom Festival, que conta com quase 8.000 cerejeiras.
  A flor de cerejeira é associada aos samurais, que por vezes tinham uma vida tão curta quanto essas flores. Muitos samurais achavam que deveriam morrer sob as cerejeiras. No teatro Kabuki, um cenário de cerejeiras significa, quase sempre, que uma tragédia está para acontecer na peça, visto o simbolismo que a árvore tem.
  Seu fruto, a cereja, tem um significado tanto quanto paradoxal ao representar, ao mesmo tempo, a pureza e a castidade, e também a sensualidade e o desejo insaciável.
Hanami


  A lenda diz que uma princesa chamada Kohana Sakuya caiu do céu perto do monte Fuji, se tornando uma Sakura. Ainda há quem acredite que a árvore tem origem no cultivo de arroz, visto que "kura" é o nome do depósito onde se guarda esse alimento.

  Existem mais de 300 variedades de cerejeiras, com flores de diversas cores e frutos com aparência e formatos bem diferenciados. As cerejeiras pertencem ao gênero Prunus, e nem todos seus frutos são comestíveis. Algumas produzem madeira nobre. A cereja vermelha é a comum dentre as que podem ser consumidas. Existe também a cereja-doce, servida ao natural, e a cereja-ácida, ou ginja, usada para fabricação de bebidas, como a ginjinha, um licor muito apreciado em Portugal. As flores variam, normalmente, de branco a vermelho, sendo a rosa a mais conhecida.
  Não é recomendável consumir mais de 200g a 300g de cereja diariamente, por ela ser rica em tanino, substancia que se consumida em excesso pode causar problemas estomacais.
  Algumas outras plantas, da divisão Magnoliphyta e da classe Magnoliopsida, apesar de não pertencerem ao gênero Prunus, são consideradas parentes das cerejeiras, pois elas também pertencem a essa divisão e classe. Exemplos dessas plantas são o Jatobá (Hymenaea courbaril), a Cerejeira-do-mato (Eugenia involucrata), a Amburana, em suas três variedades, e o pêssego-do-mato (Hexachlamys edulis). Essas quatro plantas são todas brasileira, e duas delas (Cerejeira-do-mato e pêssego-do-mato) são frutíferas, e as outras duas (jatobá e amburana) são produtoras de madeira nobre.

  Cultivar cerejeiras é extremamente trabalhoso, e exige, de fato, uma paciência oriental. Mas vale a pena, só para ver as belas e efêmeras flores.

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